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CADERNO 2 - SA 2 - TORNANDO-SE INDIVÍDUO

Tema 1 -  como me torno eu?

Como nós pensamos o indivíduo? Em geral, podemos dizer que o indivíduo tem duas dimensões: ser membro de uma sociedade qualquer (como uma formiga de um formigueiro) e, em sentido moral, um ser independente e autônomo. Portanto, quando falamos de indivíduo, pensamos em um ser de espécie humana com autonomia e independência.

A primeira preocupação de Ricoeur é como, de modo geral, nos individualizamos. Como dizemos, por exemplo, que um determinado ser é uma amostra indivisível de uma espécie. Como podemos dizer que uma abelha, por exemplo, é um individuo da espécie das abelhas. O que faz com que ela represente a sua espécie? Do mesmo modo, como um homem pode dizer que faz parte da espécie humana, mesmo considerando as diferenças entre os indivíduos?

O ponto de partida de Ricoeur é a linguagem, pois é por meio dela que nós pensamos e dizemos o mundo. Esse ato de dizer o mundo só é possível pela interpretação, sendo a linguagem a manifestação da interpretação do mundo. E ela é capaz de dizer o indivíduo a partir de três formas: por descrições definidas, por nomes próprios e por indicadores.

 

  • As descrições definidas podem ser:  a menina que sempre compra chocolate. Nas descrições, sempre há um entrecruzamento de categorias para designar um individuo. No caso do exemplo a menina que sempre compra chocolate dos seres que sempre compram chocolate. De todas as meninas do mundo, nós nos referimos àquela que sempre compra chocolate. De todos os seres que compram chocolate, nós nos referimos à menina. Portanto, ao descrever, nós cruzamos categorias para designar um indivíduo.

 

  • Os nomes próprios referem-se a uma designação especifica e permanente. A função lógica é simples: designar a singularidade do indivíduo. Por exemplo, Marcelo. Obviamente, se pronunciar a palavra Marcelo, eu me refiro ao Marcelo. No entanto, resta-me especificar suas propriedades, como: Marcelo, o aluno educado ou Marcelo, o aluno alto da 3º série.

 

  • Mas há uma outra maneira de dizer o indivíduo que, para Ricoeur, é a mais importante, a saber, por meio de indicadores, que podem ser pronomes pessoais, eu e tu; pronomes demonstrativos, isto e aquilo; advérbio de tempo, agora, ontem, amanha; advérbio de modo, assim e diversamente; além de todos os outros  dessas gramaticais. Os indicadores se diferenciam dos nomes próprios porque podem designar seres diferentes. Por exemplo, quando dizemos Pedro Álvares Cabral, nos referindo ao Pedro Álvares Cabral; quando dizemos você, nos podemos dizer essa palavra para nos referimos a vários interlocutores. Esses indicadores envolvem completamente o locutor, o ser quer pronunciar a linguagem e que narra, interpretando o mundo. Observe que, quando o locutor diz agora, ele se posiciona no tempo. O mesmo ocorre quando ele diz aqui, quando se posiciona no espaço. Quando ele diz você, ele se posiciona em relação a outra pessoa.

 

Tema 2 - Eu digo

Em um dialogar, temos, necessariamente, dois interlocutores. No instante em que apenas um fala, nós temos o locutor. A locução exige alguém que ouça; portanto, falar é dirigir-se a. Uma interlocução exige o envolvimento de, pelo menos, dois seres – quem fala e quem ouve, ou ouvirá. No entanto, quando falamos, não apenas dizemos as coisas como são, mas criamos outras. Por exemplo, uma promessa. A promessa só existe a partir do ato de fala; ela é uma criação ética da própria linguagem, em meio a uma interlocução. Em geral, o “eu” aparece completamente imbricado em nossa fala, encaixando em tudo o que falamos. Por exemplo, quando alguém diz o gato está limpo, será fácil acrescer uma fala que remeta ao locutor: eu declaro que o gato está limpo. Mesmo sem perceber, cada vez que falamos, podemos nos remeter a nós mesmo, na condição de locutores.

 

Este “eu” que somos está ancorado na história e no tempo vivido – o agora -, porque esse “eu” tem um nome próprio e uma data de nascimento, estando fixado no tempo e no espaço. Ao dizer o próprio nome, nós fazermos uma correlação do agora com aquilo que já vivemos sob esse nome, quer seja a nossa família, quer sejam nossos documentos. É a correlação do presente vivo (dizer o nome) com algum outro ponto no tempo. Do mesmo modo, podemos dizer isso do espaço, o lugar vivo agora, como a sala de aula, que pode ser correlato a outro espaço; pelo fato de dizermos eu estou na sala de aula, dizemos que não estamos em outro lugar, no qual já estivemos ou queríamos estar, por exemplo.

 

Ipseidade – Do que sou para quem sou

A ipseidade é a fala que usamos para dizer o que pertence apenas ao indivíduo, à sua singularidade. Aquilo que, entre vários de uma espécie, diferencia um só. Por exemplo, o que diferencia um cão de todos os outros do mundo. Quando dizemos somente este ser (cão) no mundo é assim, em razão de tais e tais motivos, formamos a ipseidade.

Somos seres que nos caracterizam instituir o mundo pela linguagem para se expressar, interpretar e ouvir. Isso significa dizer que a linguagem nos proporciona o que somos e o que o mundo é. Mas será que a linguagem é capaz de não apenas dizer o que somos, mas quem somos?

Essa problemática do quem é fundamental, na medida em que a resposta a essa questão traz a possibilidade da instituição do “eu” como si mesmo – idêntico somente a si, diferente de todos da sua espécie.

Para sabermos quem é este “eu”, o passo seguinte é narrá-lo. Ao narrar, somos obrigados a dizer a ação desse sujeito. Narrativa supondo, minimamente, o “eu”, algum verbo, em algum lugar, em algum tempo, sobre algo. Como, por exemplo, “eu nasci em Sorocaba”, “eu sei ler”; “eu sinto saudade de Maria” etc. Somos mais densos conforme se aprofunda nossa linguagem e conforme nossas narrativas de nós mesmos melhoram.

 

Além disso, torna-se fundamental pensarmos que nossa narrativa não diz apenas de um ser imutável; ela é uma história de um ser em contínua mudança, pois esse ser se dá pela ação narrada, e cada ação é diferente, até mesmo a mais recente delas. Portanto, nós somos a nossa história contada e somos leitores de nós mesmos.

 

A linguagem do “eu” e o outro

De fato, o uso da linguagem produz a constituição do “eu”. Nossas palavras e sentidos estão recheados das mais diversas ideologias. Nessa fusão quase sempre imperceptível, essas ideologias também nos instituem e nos configuram, atuando em nossa própria narrativa.

  

Se aprendermos desde criança palavras de discriminação, de categorização de pessoas, algo comum em universos sociais racistas, nossa leitura de nós mesmos pode estar profundamente constituída por esses preconceitos. Com isso, instituímos-nos de maneira vil com a exclusão do outro como racistas, por exemplo.

 

No entanto, pode haver uma promessa que fazermos para sermos melhores dentro da sociedade, com ações cuja narrativa se expressa por um ato generosamente bonito. Por isso, podemos partir de uma situação  de narrativa de nós mesmo para uma outra, na  tentativa ética de superarmos as injustiças e a exclusão do outro.

Podemos, sempre, perguntar a nós mesmos, o que dizer da sua história? Ela é honestamente bonita?

 

Não se pode pressupor que a ética dependa exclusivamente do indivíduo por si mesmo, uma vez que esse indivíduo é configurado pela sua ação no mundo, principalmente em relação ao outro, por meio de cooperação a partir da linguagem.

 

Para Ricoeur, a ideologia individualista propõe pensamentos que, independentemente dos outros, somos agentes éticos capazes de moldar a sociedade. Ao contrário, quando fazermos a promessa de sermos melhores, instituímos quem faz e quem ouve a promessa. Configurou-se o eu e o outro de mim, que agora é o tu – você. Depois, este que ouviu tem o direito de comprar a promessa feita. Ao mantermos nossa promessa, estabelecemos um laço de confiança e de cooperação. Nossa narrativa nos configura, mas não o faz sem configurar o outro. O dever ético não se dá apenas sobre o indivíduo, mas sobre a relação com o outro.

 

Tema 3 – A sujeição

Biografia de Michel Foucault.

 

Para Foucault, a maneira como nos vemos não procede de nossa natureza, nem de uma essência pessoal; ela vem de fora, de práticas que criam sujeitos – a sujeição. Nós nos constituímos não apenas por palavras, mas por ações fundidas a palavras, que, de modo geral, vêm ditadas pela sociedade, ou melhor, pelas instituições.

 

Para Foucault, nós não somos frutos de teorias, somos frutos de práticas, ainda que algumas teorias nos influenciem. Por exemplo, seria possível existir um dançarino que nunca dançou ou um pintor que nada pinta? A resposta seria que são as nossas práticas que nos constituem, e não a natureza.

 

Mas de quis práticas estaria falando o filósofo? De onde elas vieram? Foucault fala das práticas disciplinares que vieram das instituições modernas, principalmente a partir do século XVII, como as prisões, os hospitais, os quartéis, as fábricas e as escolas; sim, as escolas...

 

A distribuição

A primeira atividade que as autoridades modernas deram ao corpo para disciplina-lo foi a distribuição. Para controlar um indivíduo, é importante coloca-lo em um lugar escolhido por nós. Mas como seria possível distribuir pessoas de uma cidade ou de uma sociedade inteira?

 

Ø      Primeiro, construindo cercas ou muros, como nos quartéis e nas escolas. Dessa maneira, os soldados e os alunos ficam separados das pessoas, não causando problema;

Ø      A segunda prática de distribuição consiste em separar os grupos e fazer com que cada um encontre um lugar no espaço. Por exemplo, cada trabalhador no seu setor, cada doente no seu quarto, cada aluno em sua carteira etc;

Ø      A teoria prática de distribuição configura-se em dar aos indivíduos um lugar funcional: não basta separar, é preciso que estejam em um lugar em que possam ser vigiados, evitando comunicações indevidas ou reunindo forças contra quem os controla;

Ø      Enfim, toda a separação tem o ideal da fila, o que dizer que as pessoas são separadas segundo uma hierarquia. Por exemplo, as séries e as classes na escola são separadas por hierarquias de idade, rendimento do aluno e são formadas segundo a atenção dada à disciplina.

 

O controle do tempo

Outra forma de transformar os indivíduos por meio dos corpos consiste em controlar o seu tempo.

 

Ø      Primeiro, pelos horários: hora para chegar, descansar, sair, trabalhar, dormir, acordar, tomar o remédio;

Ø      Segundo, marcando o tempo da sua ação; por exemplo, a marcha dos soldados, a velocidade para se apertar um parafuso na fábrica, em se atender um telefone ou outra atividade;

Ø      Terceiro, disciplinar o corpo inteiro, para sempre fazer bem feito tudo;

Ø      Quarto, adaptar o corpo aos objetos que se manipula; por exemplo, caso for preciso ficar muito tempo em pé, é necessário disciplinar as pernas e controlar os gestos, para que elas consigam executar as tarefas;

Ø      Enfim, utilizar bem o tempo, até a exaustão.

 

O controle das gêneses

Para conseguir criar o indivíduo desejado, também foi preciso controlar a forma de sua subordinação à disciplina. Para isso:

 

Ø      Separaram-se os aprendizes dos veteranos;

Ø      Segundo as necessidades de exercício, foram separados aqueles que precisava melhorar o desempenho nesta ou naquela ação ou atividade, exercitando-os até que alcançassem o máximo rendimento. Como em uma academia de musculação, aquele que precisa trabalhar os braços, por exemplo, foi direcionado a isso, assim como no Exército, em que aqueles que precisa melhorar a pontaria é separado e exercitado para isto;

Ø      Criaram-se testes, para medir a habilidade de cada indivíduo e encerrar o processo;

Ø      Para cada um é dada uma série de atividades, conforme sua idade, conhecimento e habilidade, até alcançar o objetivo final.

 

Recursos de um bom adestramento

Para conseguir um bom adestramento, foi preciso lançar mão de alguns recursos e procedimentos:

Ø      Vigilância – é preciso que alguém fique observando a atividade, o corpo, o uso do tempo. Dessa maneira, será possível corrigir ai punir;

Ø      A sanção normalizadora – em cada instituição, há maneira de punir as pessoas que não cumprem seus deveres, o que ocorre na família, na escola, na fábrica ou no Exército. Essa punição pode vir dos próprios integrantes da instituição (os familiares, por exemplo), ou das autoridades;

Ø      O exame – ao saberem que vão ser submetidos a um teste, prova ou observação de uma autoridade, os indivíduos se auto vigiam e se autopunem, colocando os objetivos das instituições das instituições dentro de si. Como?

Vejamos o exemplo das provas na escola.

Para se sair bem na prova de Matemática, o aluno terá de estudar. Estudar é uma atividade nem sempre agradável. Para realizar essa atividade nem sempre agradável, o aluno terá de se vigiar, dizendo a si mesmo: será que estou estudando o suficiente? Caso não esteja estudando, ele como, por exemplo, já que não estudou durante a tarde, não assistirá o filme da noite para poder faze-lo;

Ø            Os exames escolares produzem uma documentação que, ao final, compõe um histórico de cada pessoa. Por exemplo, tanto na escola, quanto no hospital ou na fábrica, cada indivíduo tem uma ficha em que se registram seus dados e se guarda sua documentação. Dessa maneira, é possível saber quantas vezes o aluno foi reprovado, se é ou não disciplinado, em quais dificuldades, se foi punido e as razoes de sua punição etc. Do Mesmo modo, na fábrica, quantas vezes o operário chegou atrasado, quantas faltas já teve, quais suas condições de saúde, quantos e quais foram os acidentes sofridos etc.

Enfim, cada um se torna um caso que requer determinado tratamento.

 

Para Foucault, os indivíduos não nascem prontos, não têm essência ou natureza; eles são criados pelas atividades que desenvolvem com os seus corpos. Para esse filósofo, nós somos corpos é o que nos define, e não apenas o que é dito sobre nós mesmos. O que fazemos com o corpo é o que nos define, e não apenas o que é dito sobre nós mesmo. E ninguém nasce livre, apesar dessa frase parecer bonita; a nossa liberdade é uma conquista que nós fazemos não com palavras, mas com práticas.

 

 

SA 3 -  CONDUTAS MASSIFICADAS

 

Tema 1 - O único e sua propriedade em Max Stirner

Biografia de Max Stirner

Todos nós somos um pouco egoístas? O que fazer com nosso egoísmo? Devemos assumi-lo ou lutar contra ele?  Para Stirner, o homem é um ser egoísta, embora não sabia o que fazer com seu egoísmo. Assim, o pensador propõe que cada um deve assumir seu egoísmo, tornando-se dono de si mesmo.

 

Quando as pessoas procuram se libertar do egoísmo servindo a Deus, na verdade acabam servindo aos líderes religiosos e a se mesmo, de uma maneira parcial. Deus é uma idéia para o indivíduo, independentemente de existir ou não. O homem só por pensar que Deus existe, e será feliz assim. Quando as pessoas procuram trabalhar, cada vez mais e melhor, para servir a honestidade, na verdade estão servindo aos empregadores.

 

Portanto, as idéias de Deus e de nação são afastamentos parciais de nós mesmos. Quando acreditamos que somos seres espirituais, feitos por e para as idéias, achamos que devemos segui-las. Desse modo, pensamos egoistamente: vou servir a Deus, Porque lucrarei com isso indo para o céu, ou vou servir à sociedade, porque terei prestigio e serei considerado bom.

No entanto, se chegássemos à conclusão de que somos corpo, então serviríamos a nós mesmos em totalidade.

 

A sociedade cristã e moderna procura criar um indivíduo com aparência de livre, mas que, no fundo, é escravo da razão, da fé, ou do Estado. Todas essas instâncias e entidades prometem a liberdade, desde que renunciemos de alguma forma a nós mesmos, pois não existe liberdade interior, havendo somente aquela que é vivida longe de qualquer forma de servidão.

 

Então, quem somos nós? Stirner responde à pergunta, afirmando que somos um poço de desejo e não devemos ouvir as vozes da consciência, nem da sociedade e muito menos de Deus, pois elas escondem egoísmo que lucram com isso. Desse modo, o egoísmo é a chave para vivenciarmos definitivamente os nossos desejos, pois – se for para sermos escravos de alguém -, então, que o sejamos de nós mesmos.

 

Se cada um assumisse seu egoísmo, fazendo o bem aos outros por interesse (eu faço você feliz para você me fazer feliz), não haveria intrigas e nem lutas, pois cada um seria tão diferente do outro, a ponto de não poderem sequer discordar. O problema das intrigas e das lutas é que nós nos imaginamos parecidos com os outros e agimos por egoísmo disfarçado, adormecida. Julgamos, ainda, os outros como falsos, quando nós também o somos.

Por isso, nem realizamos os nossos desejos, nem alcançamos os nossos ideais.

 

Tema 2 – O indivíduo e a psicanálise

Biografia sobre Sigmund Freud

Para continuarmos a aprofundar as questões a respeito do indivíduo, será fundamental você precisar conhecer alguns conceitos básicos da psicanálise, inclusive considerando sua influência na Filosofia contemporânea, como na Escola de Frankfurt, na hermenêutica francesa e no existencialismo.

Para esta aula, é fundamental dispor de uma biografia sobre Sigmund Freud.

Analisando pessoas com uma doença chamada histeria, cujos sintomas se confundem com uma espécie de “possessão demoníaca”, como falta de visão, desmaios, tonturas, paralisia, pânico e ansiedade sem causa física aparente, Freud descobriu que ela se tratava de uma doença pela auto-repressão.

Auto-repressão de quê? De impulsos considerando dolorosos, terríveis ou vergonhosos para aquele indivíduo. Freud concluiu, portanto, que era essa repressão que as pessoas faziam contra seus próprios impulsos que causava a histeria. Esses impulsos ficariam fechados, isolados no que Freud chamou de inconsciente.

O inconsciente está por trás de todas as nossas fantasias. Ele gera nossas lembranças e permite que a nossa consciência tenha acesso a informações importantes, como a memória de nomes, datas, lugares, sensações. No entanto, mas do que isso, o inconsciente é responsável também por esquecimentos, lapsos, distrações, confusão de idéias, erros nas sensações, atitudes desastrosas, associação de idéias diferentes, etc.

A cultura ocidental ignorou o inconsciente e supervalorizou a consciência. Entretanto, independentemente disso, a consciência está sempre em atividade no dia-a-dia, criando, por exemplo, os sonhos. Por isso, ao interpretar o sonho, nós poderíamos chegar aos conteúdos do inconsciente, conhecendo tudo aquilo que nós reprimimos.

 

A libido

Para Freud, o “eu” de cada um é uma parte da Biologia. O nosso celebro é um corpo, e este corpo é o lugar onde nós acontecemos.

Somos inseparáveis. Aqui, é importante você frisar para a classe que Freud não tinha uma visão espiritualista do homem, mas integral, materialista e científica.

O homem biológico nasce, cresce, alimenta-se reproduz a morre. Mas, para se reproduzir, ele tem uma força natural que se desenvolve com todo o seu ser desde a infância. É a libido, a força do instinto sexual, que não apenas opera no ato sexual, mas na própria formação do desejo. Assim, como todos os instintos, a libido está em nossa formação individual. No entanto, desde criança, somos forçados a rejeitar nossos desejos sexuais, pois a sociedade vai criando a vergonha do corpo, o que também significa uma vergonha de parte de nós mesmos. Desse modo, para a criança, o prazer acaba por torna-se um fardo.

Essas sementes de repressão na infância podem se tornar uma neurose do adulto. Graças ao sonho, a repressão pode ser revelada, pois os problemas estão registrados no inconsciente. Por exemplo, se desejarmos determinado objeto, em vez de sonhar com objetos parecidos ou análogos. Perto de uma pessoa por quem sentimos atração, podemos nos atrapalhar tropeçar, esquecer palavras, corar ou até mesmo mostrar desprezo pela pessoa, criando um ódio aparentemente desmotivado e sem sentido. Da mesma forma, isso funcionaria com outros instintos, mas com menor intensidade.

Poe exemplo, por não temos determinado tipo de doce que desejamos na infância, na idade adulta poderemos chegar a desequilíbrios emocionais pelo fato do doce ou algo análogo estar ausente ou for negado.

 

A estrutura do mecanismo psíquico

O funcionamento de nossa psicologia individual, para Freud, é dividido  em três estruturas: Id, Ego e Superego.

§    O Id é o conjunto dos nossos desejos e impulsos do inconsciente, imoral e egoísta. Ele apresenta a liberdade máxima de todos os desejos, sem julgamentos.

§    O Ego é a nossa fechada, nossa consciência. A ponta do iceberg que nos constitui.

§    O Superego é a interiorização da autoridade exterior, familiar ou social. Ele é responsável pela sensação de culpa e cobrança que fazermos a nós mesmos.

 

O Ego é nossa fechada; ele tem de estar constantemente em negociação com o Id, que nos impulsiona pelos desejos, e com Superego, que nos reprime de dentro para fora. O Id quer prazer imediato, mesmo que isso custe a nossa própria vida.

Os impulsos são agressivos. Para contê-los, além da repressão direta, o principio da realidade força a libido a usar sua força para outras atividades como a arte e a produção do acontecimento, por exemplo. Isso acontece porque todos nós trazemos uma agressividade que deve ser domada para que possamos viver em sociedade. A luta pelo prazer seria, assim, a destruição da civilização; por isso, inventamos a arte, a religião e a moral, com o que podemos negar os impulsos e os seus prazeres, a fim de conviver na sociedade.

Nós negamos os prazeres por um pouco de segurança, e não para sofrermos em demasia.

No entanto, acontece que a negação social pode ser tão agressiva que o indivíduo não conseguirá ter prazeres suficientes na vida, desenvolvendo, em conseqüência, as neuroses, as doenças psíquicas.

 

 

Tema 3 – A indústria cultural

Biografias de Theodor Adorno e Max Horkheimer.

Inicialmente, proponha à classe a seguinte questão: quem nós copiamos?

Para Adorno e Horkheimer, após o Iluminismo, o ser humano se esquecer da razão como busca da verdade, da veracidade das teorias e da ética. Por temer, de certa forma, a verdade, fez-se a opção pelo funcionamento de tudo. Cada vez que perguntamos para que serve ou qual a sua finalidade de algo, estamos no campo da razão instrumental. Trocamos a busca pela verdade pela busca de objetivos sem crítica.

A razão instrumental está preocupada com os fins que também caracterizam o sistema de exploração capitalista. Por isso, diante das forças econômicas, os indivíduos acabam reduzidos à zero. Milhões de pessoas são excluídas por categorias de pensamento desenvolvidas a partir do século XIX. Por exemplo, desde o século XIX, propagou-se a idéia de que as empresas beneficiam os trabalhadores, ainda hoje, não conseguiu encontrar esses benefícios.

Para que esse sistema histórico-social-que apenas favorece os empregadores -  possa continuar intacto, isto é, fortalecido, inventou-se uma maneira muito poderosa de fazer com que as pessoas não usem a sua razão crítica para criar sua individualidade, tornando-se verdadeiras cópias de outras pessoas igualmente artificiais.

Assim, a razão instrumental acabou criando a cultura de massa, que é a industrialização e produção em serie de mercadorias culturais, que produzem, por sua vez, individualidades falsas ou pseudo-individualidades.

Adorno e Horkheimer apresentam a cultura de massa ou a indústria cultural, que submetem a arte e as manifestações culturais às leis de mercado. A beleza que fazia com que o homem compreendesse a profundidade de sua existência há dois séculos revelou-se efêmera e superficial, esvaindo-se com a moda.

Em resumo, mostram os filósofos, o mais importante não é construir a si mesmo, mas copiar quem está na propaganda.

Como você bem sabe, esse tema é crucial para se trabalhar com alunos dessa faixa etária, tantas vezes confundidos ao manipulados pela propaganda de valores até inatingíveis para a maioria deles. Por isso, é importante que você insista na avaliação das atitudes de mera cópia, tão freqüente em nossa sociedade. Mas onde se encontram a cultura de massa?

No rádio e na televisão, nos jornais e revistas, no cinema, nos shows e na propaganda, em geral, isto é, nos meios de comunicação de massa.

Quando a estratégia dessa empresa? Convencer as pessoas de que elas são livres para escolher o que é melhor, mas insistindo que o melhor é sempre o seu próprio produto. Além disso, tentam transformar tudo em entretenimento, por exemplo:

 

Ø      Todas as rádios tocam as melhores músicas. O ritmo da juventude, o som do amor. Há aqueles que afirmam tocar as melhores da semana, mas ocultam quando se apagou para elas para serem as melhores...;

Ø      Os jornais e revistas sempre afirmam seu compromisso com a verdade. Como sabemos, a verdade jornalística vende, principalmente quando se faz uma “grande denúncia”. Passando o impacto – e esgotadas as edições – a “grande denúncia” acaba esquecida;

Ø      No cinema e nas telenovelas, tudo tem um final quase sempre previsível, os melhores efeitos especiais ajudam os pseudo-artistas, que apresentam sempre corpos masculinos fortes e corpos femininos sensuais. Na maioria das vezes, pessoas seminuas, vivendo uma história pronta, com começo, meio e final feliz, como se a vida fosse assim;

Ø      Nos shows, a eletrônica, os dançarinos e a iluminação ajudam a disfarçar os limites das vozes dos cantores. O gelo-seco cria a emoção que a canção não é capaz de cria. O volume alto do som empurra todo mundo para o balanço de músicas sem sentido e, muitas vezes, malfeitas, mas como se trata do cantor ou cantora que todos escutam...

Ø       A pirataria, por sua vez, apenas reforça a indústria cultural, barateando o produto e permitindo, assim, maior acesso à cultura de massa e seus reduzidos valores;

Ø      Na televisão, a artista que se confessa engajado num programa acaba vendendo ilusões nas propagandas do intervalo, vampirizando aposentados e pensionistas, prometendo empréstimos a juros baixíssimos; “os menores do mercado”.

 

Dessa maneira, ao trocar o pensar pelo sentir, os indivíduos passam a compor um mosaico, construído com pedrinhas das ideologias vinculadas nos sistemas de mass media. Renunciando à construção de si, funcionam como cópias de máscaras, vendo-se apenas montagens, não realidades. Com isso, assumem como seus desejos que são criados pela propaganda: compre isto para ser assim; seja interessante sendo assim ou – mais sinceramente – você é aquilo que você pode pagar; você não se adapta ao modelo, não serve etc.

 

No entanto, as pessoas acabam sofrendo por não terem as falsas maravilhosas que vêem nos meios de comunicação, ou por serem diferentes do modelo de homem ou mulher anunciada pela propaganda. E isso também inclui, de modo decisivo, a criança, fazendo com que a sensação de sofrimento e frustração comece na infância, com os brinquedos caros que não se podem comprar, terminando na velhice esquecida, pois é da juventude que a televisão gosta e ensina os telespectadores a gostar.

 

Quase todas as mercadorias que estão à venda – música, dança, imagens, cheiros, sabores, roupas – trazem consigo a idéia de um estilo, que deve ser comprado ou – se isso não for possível – imitado.

 

Com a indústria cultural, além das artes, a religião e o esporte também viraram produtos. As pessoas deixam de praticar a religião e o esporte para assisti-los pela televisão. Para encontrar o sagrado, não é mais necessário estar junto com os demais fieis e fazer orações eles, basta ligar a televisão ou o radio no horário marcado e será possível ter o sagrado m domicilio. Com o esporte, é mais fácil comer pipoca à frente da TV do que ir ao estádio, ou jogar aquela “pelada” com os amigos. Como se vê, todas as emoções estão à venda, mas duram pouco para que voltemos a comprar outras.

 

 

 

SA 4 - ALIENAÇÃO MORAL

 

Tema 1 - A construção da imagem de uma pessoa ética

 

Trabalho em grupo:

Reflitam em gupo como agem as pessoas, de modo geral, e como elas deveriam agir:

a)     Em família

b)     Com os amigos

c)     Em relação à cultura

d)     Com o trabalho

e)     Na igreja

f)     Com as outras pessoas

 

Tema 2 – Viver para o outro

Biografia sucinta de Emmanuel Lévinas

 

Em geral, quando nos vemos como indivíduos, temos uma certeza: somos nós e o mundo. O “eu” percebe o mundo e os entes do mundo como coisas. Dividimos o mundo em entes importantes para nós e entes que não nos são importantes; entes que amamos e entes que não amamos; entes que fazem parte da nossa vida e entes que ignoramos por completo.

Dessa maneira, categorizamos o mundo e damos sentidos a tudo. Por exemplo, no livro A menina que roubava livros, de Marcus Zusak, a personagem principal guarda alguns livros, mesmo sem saber ler, pois eles significam a presença do irmão e da mãe, isto é, o sentido dos livros não foi atribuído pelo texto, mas pela analogia que a menina faz entre esses objetivos e pessoas que amava.

 

A linguagem como acesso ao outro

A linguagem nos precede, nós recebemos o que somos não por nós mesmos, mas a partir do onde fomos criados. Somos fruto do mundo que nos cerca. Somos parte dele, quer queiramos ou não, justamente porque até a maneira de vermos o mundo está constituída pelas forças de linguagem que aprendemos de outras pessoas, como os nossos pais e professores.

A troca de sentido é o que nos faz humanos. Ao reconhecer que outras pessoas são capazes de dar sentido, elas deixam de ser apenas coisas e tornam-se o outro, parte do nosso “eu”, assim como nós nos tornamos parte deles. No entanto, o outro é para nós um profundo e infinito mistério, e cada pessoa do mundo pode nos levar a lugares jamais pensados.

Por isso, é preciso viver para o outro, pois assim o desenvolvimento do nosso “eu” será cada vez maior. Viver para o outro é a melhor maneira de viver para si, pois os outros são a maior parte de nós mesmos. Os outras são as pessoas de quem gostamos ou de quem não gostamos. Estranhos e conhecidos. Podemos compreender e sermos compreendidos por todos. Nossa atitude ética, então, é viver para o outro, e cada vez que nos aproximamos dos outros nós nos completamos, nos instituímos. Os outros nos dão mais expressividade, mais linguagem. Portanto, devemos viver por quem nos dá mais, que é a maneira de vivemos por nós mesmos, ou seja, viver para o outro.

 

ATIVIDADE NO CADERNO 

Nesta aula, produza um pequeno texto a respeito do que esperam das seguintes pessoas:

1.    De uma pessoa estranha que anda na rua.

2.    De uma pessoa da sua família.

3.    De alguém que você magoou.

4.    De alguém que magoou você.

5.    De alguém de quem você não gosta.

6.    De alguém que você ama.

 

Tema 3  – Alienação moral e o ser-para-outros em Sartre

Biografia de Jean-Paul Sartre

Comece a aula lembrando que muitas pessoas sonham ou tem pesadelos onde aparecem sem roupa na rua, à frente de estranhos. Ficam aflitas e envergonhadas e só sentem alívio ao despertarem e perceberem que tudo não passou de um sonho. A partir disso, podemos pensar, filosoficamente, por que sentimos vergonha? Por que um bebê não sente vergonha de estar sem roupa?

 

Para Sartre, a vergonha vem do fato de que nós somos o que os outros nos revelam. Assim, no caso da vergonha, somos instituídos pela presença julgadora dos outros. Nós reconhecemos nossa existência a partir do significado que o outro nos atribui. Se me sinto envergonhado e acho que está acontecendo comigo é algo feio, é outro que me revela nesse significado. Do mesmo modo, ao estar apaixonado, egoisticamente precisando ser amado, o outro me revela nessa necessidade.

 

Diferente do amor, que quer aprisionar o outro ao nosso lado, o ódio também nos revela quem somos. O ódio também me revela minha maldade, meu ser cruel, que despreza a liberdade do outro. Por isso, mesmo quem ri de nós nos institui. Enfim, cada um de nós experimenta a própria existência sob o olhar alheio.

 

Isso faz com que nossa relação com os outros seja tão íntima que precisamos assumir uma vida ética. Por mais que eu me considere de determinado jeito, sempre haverá que nos mostra de modo diferente. Podemos até disfarçar já é colocar-se no mundo com base no outro. Por isso, Sartre chegou a dizer que o inferno são os outros. Não há como escapar disso: é preciso ser ético.

 

Alienação moral

Alienação moral é preocupar-se de maneira distorcida com o outro. Não é ignorá-lo, visto que é impossível, pois ele nos mostra em si como somos, mas traduzi-lo de uma forma que não permita essa revelação. Eu trato os outros os outros sem que eles façam com que eu me repense. Ao tentar ignorar um pobre, o rico só o está categorizando, impedindo que a pobreza revele a sua vileza. Assim, para se justificar, procura por categorias metafísicas preestabelecidas fora da historia.

 

Sobre isso Sartre afirmou que não podemos viver com morais alienantes, fora da historia. A ética deve ser entendida como ação no mundo, sob o contingenciamento da historia – historias e ética se confundem. A alienação moral procura fazer com que a ação do passado seja repetida no presente; o que é bom é a cópia do que foi bom, ignorando as transformações que a historia de cada um e das sociedades imputam a todos. Não podemos dizer, sem pensar, que o que era errado há 100 anos continuará sendo errado, não deve haver mudanças.

 

Tanto como o organismo precisa de alimento, água e ar, nós, seres humanos, precisamos de ética. A sua falta pode significar a morte ou uma falsa vida, falsa individualidade e pseudo-existência. Sem ética, sem pensar no outro como revelador de nós mesmos, nós não passamos de pássaros que não têm asas. Sem agir em benefício dos outros, ainda que pensemos, teríamos as asas, mas mesmo assim não voaríamos.

Cabe, portanto, ao hoje, a preocupação de como devemos agir. As mudanças do nosso tempo exigem de nós reflexão, e não leis revividas. Ação pensada nas categorias que o outro impõe.

Cabe a cada um de nós assumir a reflexão pura e sermos autênticos, isto é, éticos. Devemos fazer uma reconciliação com nós mesmos e assumir a ação ética no mundo, mesmo que não tenhamos apoio: as atitudes antiéticas dos outros nos revelarão éticos.

 


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